quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A fase de ouro do futebol argentino


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Grandes feitos: Tetracampeã Invicta do Campeonato Sul-Americano (1941, 1945, 1946 e 1947). Foi a primeira (e até hoje única) seleção a vencer o torneio por três vezes seguidas.

Time-base: Juan Estrada (Sebástian Gualco / Julio Cozzi / Fernando Bello / Héctor Ricardo / Claudio Vacca); José Salomón (Juan Colman) e Jorge Alberti (Rodolfo De Zorzi / Juan Sobrero / Nicolás Palma); Roberto Sbarra (Carlos Sosa / Juan Fonda / Norberto Yácono), José Maria Minella (Ángel Perucca / León Strembel / Néstor Rossi) e Bartolomé Colombo (Antonio Sastre / Natalio Pescia); José Manuel Moreno (Mario Boyé / Juan Carlos Muñoz), Adolfo Pedernera (Vicente De la Mata / Norberto “Tucho” Méndez), Juan Marvezzi (Herminio Masantonio / René Pontoni / Alfredo Di Stéfano), Rinaldo Martino (Ángel Labruna) e Enrique García (Félix Loustau). Técnico: Guillermo Stábile.


1941 - Argentina, campeã Sul-Americana.
Muito antes dos grandes craques dos anos 90, de Maradona e do primeiro título mundial, em 1978, a Seleção Argentina teve, lá nos anos 40, um time simplesmente sensacional e com uma variedade tão grande de craques em todas as posições que não havia como manter um jogador como titular absoluto ou com o ar de intocável.

Entre 1941 e 1947, a equipe albiceleste conquistou quatro torneios continentais, encheu seus rivais de gols e foi a mais talentosa e soberana equipe da América. Mas, por causa de um fato lamentável na história da humanidade chamado Segunda Guerra Mundial, os feitos daquela Argentina acabaram minguados pela ausência do torneio que poderia colocar em patamares ainda maiores aqueles jogadores: a Copa do Mundo.

As edições de 1942 e 1946 não aconteceram e prejudicaram demais o futebol argentino, que não pôde mostrar para o planeta o que Cozzi, Vacca, Salomón, Yácono, Sosa, Néstor Rossi, Moreno, Boyé, Muñoz, Pedernera, Norberto Méndez, Masantonio, Alfredo Di Stéfano, Sastre, Labruna, Martino e Loustau (isso só para citar alguns!) eram capazes de fazer com a bola em seus pés.

Todos foram exuberantes. Todos foram decisivos. E todos contribuíram para fazer da Argentina a primeira seleção tricampeã da Copa América e soberana na competição durante 40 anos. Naquela época, ninguém podia com os portenhos.

Aliás, no mundo, as únicas equipes que talvez poderiam rivalizar com os sul-americanos seriam os portugueses, se utilizassem como base o formidável Sporting e os italianos, se jogassem com a”maglia” do Grande Torino por baixo da camisa azul.

Juan Carlos Muñoz toca violão enquanto José Salomón pede clemência. Junto com eles René Pontoni, Norberto Méndez, Rinaldo Martino e Rodolfo De Zorzi.

Após o brilho de alguns de seus clubes no começo do século XX, a Argentina mostrou um poder ainda maior no futebol a partir dos anos 20. Em 1928, a seleção albiceleste esteve na final do futebol olímpico nos jogos de Amsterdã (HOL), e, dois anos depois, na finalíssima da primeira Copa do Mundo.

Em ambas as ocasiões, porém, os argentinos foram derrotados pela Celeste Olímpica do Uruguai e tiveram que engolir a seco a ótima fase do vizinho do Rio da Prata. No entanto, anos depois, a ordem das coisas começou a inverter e os albicelestes venceram o Campeonato Sul-Americano de 1937 com vitórias decisivas sobre o Brasil, por 1 X 0 e 2 X 0, na reta final.

O time campeão daquele ano já tinha vários craques que também brilhariam nos anos 40 (Fernando Bello, Antonio Sastre, Bartolomé Colombo, Vicente de la Mata) além de outros grandes nomes como Carlos Peucelle, Roberto Cherro e Enrique Guaita.

Em 1938, o time portenho seria um dos principais favoritos ao título da Copa do Mundo, mas a AFA não gostou de a FIFA ter escolhido a França como país sede (repetindo o continente da edição de 1934, a Europa) e abdicou da competição mesmo com o clamor popular e a vontade dos torcedores argentinos em ver seus jogadores exibindo o futebol portenho no Velho Continente.

Tempo depois, a AFA percebeu que foi um grande erro ter refutado participar da Copa por causa da ótima campanha do Brasil (único sul-americano no Mundial) de Leônidas da Silva e Domingos Da Guia, que fez ótimas partidas, terminou em terceiro lugar e só foi eliminado na semifinal em uma partida duríssima contra a Itália de Vittorio Pozzo.

Levando em consideração que aquele mesmo Brasil foi derrotado pela Argentina um ano antes, é de se pensar o tamanho da frustração dos portenhos quando terminou a Copa…

Stábile, técnico da Argentina dos tempos de ouro.
Em 1939, Guillermo Stábile, artilheiro da primeira Copa do Mundo e ídolo dos argentinos conhecido como “El Filtrador” (O Infiltrador), assumiu o comando técnico da seleção com o objetivo de aproveitar ao máximo aquela safra de craques que aumentava a cada dia no futebol do país para ganhar tudo o que fosse possível.

A única tristeza é que ficava bem claro que os Mundiais da década que estava perto de chegar dificilmente iriam acontecer pela clara aproximação da Segunda Guerra Mundial e o “cheiro de pólvora” que dominava a Europa na época.

Mesmo assim, Stábile começou a garimpar vários nomes dos diversos clubes do país e a dar chances para jovens e também jogadores experientes, deixando bem claro que ninguém teria lugar cativo nem a titularidade absoluta por causa da enorme quantidade de bons futebolistas que ele tinha à disposição.

As primeiras mostras aconteceram em 1939 e em 1940, quando a Argentina faturou a antiga Copa Roca em cima do Brasil com direito a goleadas de 5X 1, em 1939, com gols de García, Masantonio (2) e Moreno (2), e um inesquecível 6 X 1 aplicado no dia 5 de março de 1940, na cancha do Sportivo Barracas, com três gols de Peucelle, dois de Masantonio e um de Baldonedo. Aquela foi a maior goleada da Argentina na história do Superclássico das Américas.

José Manuel Moreno, um dos maiores craques da história do futebol argentino.

Em 1941, a Argentina viajou até o Chile para a disputa do Campeonato Sul-Americano e Stábile levou várias estrelas de diferentes times.

Entre os destaques estavam o goleiro Juan Estrada, do Boca, os defensores José Salomón (Racing) e Jorge Alberti (Huracán), os meio-campistas José María Minella (River), Bartolomé Colombo (San Lorenzo) e Roberto Sbarra (Estudiantes), o polivalente Antonio Sastre (Independiente) e os atacantes Adolfo Pedernera (River), Enrique García (Racing), Juan Marvezzi (Tigre) e José Manuel Moreno (River).

Com uma linha de frente irresistível e atletas que esbanjavam técnica e boa forma física, a Argentina não teve dificuldades para derrotar seus adversários e ficar com o título.

Na estreia, vitória por 2 X 1 sobre o Peru (dois gols de Moreno). Em seguida, triunfo de 6 X 1 sobre o Equador, com cinco gols de Marvezzi (um jogador não marcava tantos gols em um só jogo da competição desde Héctor Scarone, em 1926) e um de Moreno, 1 X 0 no Uruguai (gol de Sastre) e 1 X 0 sobre o anfitrião Chile, com gol de García. Começaria ali um dos períodos mais gloriosos da história da albiceleste.

Masantonio foi um dos destaques do Sul-Americano de 1942, mas a Argentina não levou o caneco.
Em 1942, no Uruguai, Sábile convocou uma “outra” Argentina, deu espaço para Gualco e o prolífico Masantonio, e a equipe albiceleste entupiu os adversários de gols. O time argentino fez 4 X 3 no Paraguai, 2 X 1 no Brasil, 3 X 1 no Peru e 12 X 0 no Equador, na maior goleada de toda a história da Argentina.

Os goleadores daquela partida foram Moreno, com cinco gols, e Masantonio, com quatro. Pedernera, García e Perucca completaram a festa. Na última rodada, os albicelestes foram para o tudo ou nada contra o anfitrião Uruguai, no estádio Centenário, precisando de uma vitória simples para ficar com o caneco.

Mas Obdulio Varela controlou as ações no meio de campo e Bibiano Zapirain marcou o gol da vitória uruguaia por 1 a 0 que enlouqueceu os mais de 70 mil torcedores. O triunfo deu mais um título continental ao Uruguai, que manteve sua invencibilidade jogando em casa pela competição e venceu pela sétima vez o torneio na sétima vez em que este foi realizado integralmente em terras celestes.

Argentina e Uruguai terminaram com os melhores ataques do torneio (21 gols em seis jogos) e os atacantes albicelestes Moreno e Masantonio foram os artilheiros com sete gols cada. Mas, a partir de 1945, a Argentina mostraria para todo o continente quem tinha o melhor time.

Norberto Méndez, ídolo argentino e carrasco do Brasil.

Após três anos sem competições continentais, a Argentina voltou ao Chile para a disputa do Sul-Americano de 1945 com um plantel fortíssimo e que tinha entre os convocados para o ataque nomes como Juan Muñoz, Vicente de la Mata, René Pontoni, Rinaldo Martino, Félix Loustau, Mario Boyé e Norberto Tucho Méndez, um dos mais fabulosos jogadores argentinos de todos os tempos e ídolo de incontáveis gerações de torcedores não só de seu país, mas também de várias outras nações de apreciadores do bom futebol.

Méndez via o jogo como poucos, marcava gols como um legítimo atacante e construía jogadas belíssimas, além de ter um característico “sangue portenho” e adorar caminhar pelas ruas, ver (e dançar) bons tangos e contemplar agradáveis momentos com os amigos num “bodegón”.

Naquele torneio continental, Tucho bailou como poucos e só não fez chover na campanha de mais um título invicto da Argentina. Na estreia, a albiceleste fez 4 X 0 na Bolívia com gols de Pontoni, Martino, Loustau e De la Mata.

Em seguida, vitória por 4 X 2 sobre o Equador, com gols de Pontoni, De la Mata, Martino e Pelegrina. A partir do terceiro compromisso, Méndez mostrou que também tinha faro artilheiro e marcou dois gols na goleada de 9 X 1 sobre a Colômbia.

Na sequência, empate em 1 X 1 com o Chile (com um gol do craque) e, contra o Brasil, Méndez fez simplesmente todos os gols da vitória por 3 X 1 sobre o eterno rival. No último duelo, contra o sempre complicado Uruguai, Martino marcou o gol da vitória por 1 X 0 que fez da Argentina a grande campeã da América em 1945.

Méndez, ao lado do brasileiro Heleno de Freitas, foi o artilheiro da competição com seis gols e um dos destaques de um torneio que se confunde com sua própria história, afinal, Tucho é o maior artilheiro da competição (ao lado do brasileiro Zizinho) com 17 gols em apenas três edições disputadas (as três do tricampeonato daquela década de 40).

Pontoni e Martino, craques da Seleção e do San Lorenzo.

Em 1946, jogando em casa, a Argentina sabia que tinha que fazer bonito e conquistar o Sul-Americano com categoria. Para isso, Stábile reforçou o ataque com alguns dos principais nomes do ataque da Máquina do River Plate da época – Loustau, Pedernera e Labruna, deslocou Tucho Méndez mais para o centro do ataque e passou De la Mata para a ponta-direita.

Pronto. A Argentina estava pronta para arrebentar com os rivais e provar mais do que nunca que se dava ao luxo de possuir jogadores bons o suficiente para montar um, dois ou até três grandes times.

Quanta soberba! Entre janeiro e fevereiro de 1946, a equipe portenha bateu Paraguai (2 X 0), Bolívia (7 X 1), Chile (3 X 1), Uruguai (3 X 1, com gols de Pedernera, Labruna e Méndez) e Brasil (2 X 0, com dois gols do carrasco Méndez) e venceu o bicampeonato consecutivo com 100% de aproveitamento.

As 80 mil pessoas que lotaram o estádio Monumental para ver a vitória sobre o Brasil no dia 10 de fevereiro se encantaram com o futebol vistoso e irresistível daquele timaço que jogava por música e colocava os rivais na roda. Naquele ano, era para aqueles mágicos desfilarem suas virtudes em uma Copa do Mundo, mas quis o destino que tal desejo ficasse apenas no sonho.

Uma das formações do time de 1946. Em pé: Stábile (técnico),  De La Mata, Méndez, Pedernera, Labruna e Loustau. Agachados: Salomón, Sobrero, Fonda, Strembe, Vacca e Pescia.

Uma curiosidade é que o San Lorenzo, um dos principais esquadrões do país na época e com craques como Rinaldo Martino e René Pontoni, fez uma excursão pela Europa no final daquele ano e venceu o Atlético de Madrid (4 X 1), a Seleção da Espanha (7 X 5 e 6 X 1), a Seleção de Portugal (10 X 4), o Porto (9 X 4) e ainda empatou com Sevilla (5 X 5), Valencia (1 X 1) e Athletic Club (3 X 3). Todos na Argentina só imaginaram os estragos que a seleção causaria se tivesse enfrentado aqueles e outros adversários do Velho Continente em uma hipotética Copa…

Seleção de 1947 entrando em campo.

No final de 1947, Stábile garimpou mais uma leva de ótimos jogadores para sacramentar aquela era de ouro argentina com mais um título continental, dessa vez em solo equatoriano.

O treinador deu espaço para o goleiro Julio Cozzi, do Platense, para o ótimo defensor Norberto Yácono, da Máquina do River, para o temível volante Néstor Rossi, também do River, e percebeu que um jovem de cabelos claros e habilidade tremenda poderia vingar com a camisa albiceleste: Alfredo Di Stéfano, prodígio do River que fez daquela competição sua primeira e única grande aparição pela Seleção Argentina.

Após golear o Paraguai por 6 X 0 na estreia, a Argentina sapecou a Bolívia por 7 X 0 e viu Pontoni se lesionar. Com isso, Di Stéfano assumiu a vaga no ataque, marcou um gol e não saiu mais do time.

Contra o Peru, “La Saeta Rubia” (Flecha Loira) deixou sua marca na vitória por 3 X 2. No empate em 1 X 1 com o Chile, Di Stéfano fez o gol solitário dos argentinos. Contra a Colômbia, o craque marcou três na goleada de 6 X 0.

Nos dois compromissos seguintes, vitórias por 2 X 0 sobre o Equador e 3 X 1 sobre o Uruguai, sendo esta a decisiva para o inédito e histórico tricampeonato continental seguido da Argentina, que assumiu o protagonismo da competição e conseguiu uma façanha jamais repetida por nenhuma outra seleção, nem pelo Uruguai dos anos 50, muito menos pelo Brasil de Pelé ou o Brasil dos anos 90 e 2000.

 Sul-Americano de 1947. Mario Boyé, “Tucho” Méndez, Alfredo Di Stéfano, José Manuel Moreno e Félix Loustau, o “pequeno” ataque argentino em 1947. Pobres rivais…

O ainda jovem Alfredo Di Stéfano com a camisa da Seleção Argentina.

Di Stéfano foi considerado a grande revelação do torneio pelos gols, pela habilidade e pela velocidade supersônica que apresentava no auge dos seus 21 anos. Curiosamente, o craque nunca mais vestiria a camisa da Seleção Argentina. Foram apenas seis jogos, seis gols e um título, mas a eterna recordação da torcida e dele mesmo:

“Meu maior e único aporte com a Argentina foi o Sul-Americano de 1947. Joguei seis partidas e fui o melhor jogador do torneio. Contra a Colômbia, fiz meu melhor jogo e marquei três gols, curiosamente, a minha futura próxima seleção. 

Tinha apenas 21 anos, mas joguei seis jogos, marquei seis gols e terminou minha história com a Argentina”. Alfredo Di Stéfano, em entrevista publicada no livro “Todo sobre la selección”, de Oscar Barnade e Waldemar Iglesias, 2014.

Após o auge com o quarto título continental em cinco disputados, a Argentina passou por um momento conturbado que culminou com seu declínio no futebol continental. O futebol passou por um período de greve e vários craques deixaram o país para jogar em outros lugares, em especial na Colômbia.

Na Copa de 1950, a equipe não quis participar novamente por diversos motivos, entre eles a “falta de garantia total no título” segundo o presidente Juan Domingo Perón, já que o esporte para o governo da época era uma verdadeira “questão de estado”.

A equipe só brilharia em definitivo no cenário mundial a partir dos anos 70, com o primeiro título da Copa e a crescente leva de grandes jogadores despontando para o planeta e os títulos importantes conquistados por diversos clubes portenhos.

Mesmo após décadas e mais décadas, os apaixonados por futebol na Argentina ainda consideram o time dos anos 40 como um esquadrão de ouro que teve uma quantidade de estrelas muito maior até mesmo que as equipes campeãs mundiais em 1978 e 1986.

Como disse El Charro Moreno certa vez: “De 1938 até 1950 foi a Era de Ouro do futebol argentino. Foi um momento especial que contava com equipes cujos jogadores gostavam e tinham prazer do que faziam e jogavam seis ou sete anos, no mínimo, em seus clubes”.

Eram os bons tempos do caráter lúdico e de um império de arte que dominou o futebol sul-americano por uma década inesquecível. Uma seleção imortal.

OS PERSONAGENS

Juan Estrada: goleiro sério, responsável e ágil, brilhou no Huracán e no Boca Juniors nas décadas de 30 e 40. Em uma época de enorme concorrência, conseguiu cravar seu espaço entre 1936 e 1941 e foi o titular da seleção em 18 compromissos, entre eles os quatro jogos da conquista do Campeonato Sul-Americano de 1941.

Sebástian Gualco: foi um dos primeiros goleiros argentinos a usar e abusar das pontes e das defesas espetaculares, aquelas que enchem os olhos do torcedor e dos fotógrafos. Rápido e com o reflexos sempre apurados, Gualco disputou 23 partidas como titular da seleção, esteve no grupo campeão continental em 1941 e foi titular na campanha do vice-campeonato de 1942. Viveu seus melhores momentos no San Lorenzo, entre 1935 e 1940.

Julio Cozzi: goleiro extremamente seguro e um símbolo em honestidade, Cozzi foi essencial para o baixo número de gols sofridos da maioria dos times que defendeu, entre eles o Platense e o Millonarios. Sua qualidade debaixo das traves era tão grande que ganhou dos colombianos o singelo apelido de “el arquero del siglo” (o goleiro do século), por suas defesas espetaculares. Pela seleção, por causa da forte concorrência e opções do técnico Stábile, disputou apenas seis partidas, todas da campanha do tricampeonato continental de 1947.

Fernando Bello: “El Tarzán”, como ficou conhecido, foi outro dos maravilhosos goleiros que a Argentina teve naqueles anos 30 e 40. Com um físico de destaque e impecável nas bolas alçadas na área, o goleirão disputou 11 jogos como titular da seleção, entre eles dois jogos na campanha do título continental de 1945. Viveu o melhor momento da carreira no Independiente.

Héctor Ricardo: simples, sóbrio e atento, o goleiro do Rosario Central disputou apenas sete partidas pela seleção, mas foi titular em quatro compromissos na campanha do título continental de 1945.

Claudio Vacca: titular na conquista continental de 1946, o goleiro do Boca Juniors não era tão alto, mas compensava a baixa estatura com agilidade e uma característica curiosa: ele pegava muito em jogos noturnos. Mas o que isso tem a ver? É que naqueles anos 40 a iluminação dos estádios era bem precária e fazia com que os goleiros cometessem erros terríveis por causa da penumbra. Mas isso parecia não afetar Vacca, que se transformava e defendia tudo e mais um pouco. Pela seleção, disputou apenas sete jogos.

José Salomón: foi um dos maiores defensores argentinos dos anos 40 e exemplo de sobriedade, segurança e visão de jogo. Tinha força, vigor, não apelava para a violência e sabia sair jogando desde sua área, além de ganhar todas no jogo aéreo. Foi o grande capitão da equipe entre 1942 e 1946 e faturou três títulos continentais. Foi ídolo, também, no Racing.

Juan Colman: foi titular na conquista continental de 1947 e se destacava no setor defensivo pela frieza, valentia e espírito de combate. Brilhou no Newell´s e no Boca.

Jorge Alberti: zagueiro forte e muito seguro, disputou 23 jogos pela seleção e foi campeão continental em 1941, além de ter atuado em quatro partidas do vice de 1942. Brilhou no Huracán.

Rodolfo De Zorzi: não era um defensor técnico, mas se garantia no vigor e no porte físico. Viveu grandes momentos no Boca e foi titular em cinco partidas da conquista continental de 1945.

Juan Sobrero: atuava mais pelo setor esquerdo da defesa e chamava atenção pela calvície prematura que o deixava mais velho do que era. Pequenino, tinha velocidade e boa técnica para sair jogando e ajudar a municiar o ataque. Disputou 16 partidas pela seleção e foi titular nas conquistas continentais de 1946 e 1947.

Nicolás Palma: zagueiro seguro e que não inventava em serviço. Disputou apenas seis partidas pela seleção, mas foi titular em dois jogos da conquista continental de 1945 e outros dois na de 1947.

Roberto Sbarra: ídolo do Estudiantes, o volante se destacava pela antecipação e boa capacidade de distribuir a bola para os companheiros de ataque. Disputou 11 jogos pela seleção e atuou em quatro jogos na conquista continental de 1941.

Carlos Sosa: muitos o consideram um dos maiores médio-defensivos argentinos de todos os tempos pelo controle de bola, eficiência na marcação e inteligência que demonstrava dentro de campo. Também possuía uma ótima capacidade para distribuir bolas para os atacantes destroçarem as zagas rivais. Foi titular em seis jogos da campanha do título continental de 1945 e em outros dois na de 1946. Patrimônio histórico do Boca.

Juan Fonda: era forte na marcação e também técnico com a bola nos pés. Se antecipava bem aos adversários no meio de campo e fez grandes partidas durante a campanha do título continental de 1946. Brilhou no Platense.

Norberto Yácono: atuando como zagueiro ou volante, Yácono foi um dos maiores craques de seu tempo pela inteligência, velocidade e antecipação que exibia em campo. Além disso, foi um dos primeiros a exercer marcação individual em determinados atacantes e um especialista em roubar bolas de ariscos pontas-esquerdas (que eram muitos e dos bons naquela época). Craque do River, Yácono só ganhou mais espaço com Stábile no Campeonato Sul-Americano de 1947, quando provou que deveria ter tido mais chances nas edições anteriores.

José Maria Minella: começou mais avançado, pela esquerda, mas fez história mesmo atuando no meio de campo, onde se destacou pela técnica com a bola nos pés e o controle de bola pleno para organizar jogadas e distribuir o jogo. Cavalheiro e muito cordial, sempre teve o respeito dos colegas e foi capitão em todos os times que jogou, entre eles o Gimnasia y Esgrima e o River. Pela seleção, disputou 24 jogos e atuou em três jogos na conquista continental de 1941.

Ángel Perucca: outro meio-campista técnico e cerebral, brilhou no Newell´s e disputou 26 jogos pela seleção. Foi titular nas conquistas continentais de 1945 e 1947, além de ter atuado na campanha do vice de 1942.

León Strembel: elegante com a bola nos pés, mas feroz na marcação e nas roubadas de bola, foi outro que se destacou naquela era de ouro. Disputou cinco jogos como titular na campanha do título continental de 1946.

Néstor Rossi: raçudo, técnico, vigoroso, imponente, craque. Néstor Rossi foi um dos mais talentosos e temidos meio campistas do futebol argentino e mundial dos anos 40 e 50. Podia ajudar a equipe nas construções de jogadas de ataque e também a derrubar, de qualquer maneira, os rivais que ousassem passar por ele. Como um verdadeiro caudilho, Rossi foi imponente e soberano em todos os clubes que passou e titular em cinco jogos da campanha do título continental de 1947. Foi ídolo no Millonarios e no River. Pela seleção, disputou 26 partidas.

Bartolomé Colombo: extremamente regular, era um meio-campista que sempre cumpria seu papel na marcação e que sabia o que fazer com a bola nos pés. Ídolo do San Lorenzo, foi tricampeão continental pela Argentina em 1937, 1941 e 1945, sempre jogando um futebol de alto nível e sem contestações.

Natalio Pescia: para ele, não havia bola perdida e o jogo só terminava quando o árbitro apitasse em definitivo. Raçudo e muito brigador, foi ídolo do Boca e titular em 10 jogos das campanhas continentais da Argentina em 1946 e 1947.

José Manuel Moreno: El Charro é considerado um dos mais completos jogadores argentinos (e latinos) de todos os tempos, virtuoso armador e goleador, prático, rápido, genial. Para muitos, foi o mais brilhante craque argentino até o surgimento de Maradona e ainda é considerado mais completo que o próprio Dieguito. De personalidade forte dentro e fora de campo, José Manuel Moreno fez história no River compondo aquela linha de ataque inesquecível nos anos 40. Disputou 320 jogos e marcou 180 gols pelo River (4º maior artilheiro da história), clube pelo qual jogou de 1935 até 1944 e de 1946 até 1949. Pela seleção, disputou 34 jogos e marcou 19 gols. Foi campeão continental em 1941, vice em 1942 e campeão em 1947.

Mario Boyé: ponta de muita força, chutes potentes e precisão nas cabeçadas, Boyé brilhou com as camisas do Boca e do Racing e esteve presente nas conquistas de 1945 e 1947. Pela seleção, disputou 17 partidas e marcou sete gols.

Juan Carlos Muñoz: pela ponta direita, Muñoz iniciava, juntamente com Perdenera, os ataques mágicos daquele River nos anos 40.  Disputou 184 partidas e marcou 39 gols pelo River em mais de uma década, além de participar das campanhas dos quatro títulos nacionais do clube. Para ele, jogar naquela equipe era uma diversão constante, sem pressa em fazer gols ou vencer as partidas.

Adolfo Pedernera: uma lenda que dispensa comentários ou elogios neste pequeno espaço, afinal, ele sempre mereceu linhas e mais linhas para sintetizar sua sabedoria, sua técnica e sua arte para com o futebol. Não é à toa que ele já foi imortalizado aqui no blog. Leia mais sobre o craque clicando aqui.

Vicente De la Mata: exímio driblador, foi um dos maiores atacantes de seu tempo, embora prendesse demais a bola e demonstrasse um lado um tanto egoísta. Passava facilmente pelos zagueiros rivais e abria espaços para os companheiros de ataque, além de também guardar seus gols. Disputou 13 jogos pela seleção e marcou seis gols.

Norberto “Tucho” Méndez: outro titã do futebol argentino, Méndez foi completo e um dos principais nomes daquela era de ouro do futebol portenho. Cerebral, rápido, goleador e capaz de armar e finalizar jogadas, ele confundia as defesas rivais com seu jeito oportunista e criativo de aparecer na área, tocar para um companheiro ou ele mesmo chutar a gol. Carismático, sempre foi ídolo por onde passou, incluindo Huracán, Racing e Tigre, e pela seleção, pela qual disputou 31 partidas e marcou 19 gols, sendo 17 somente na Copa América, uma prova real da importância do craque para o tricampeonato de 1945-1946-1947. Foi gênio.

Juan Marvezzi: centroavante clássico, perseverante e perigoso, Marvezzi brilhou no Tigre, disputou nove partidas pela seleção e marcou nove gols, cinco deles na goleada de 6 a 1 sobre o Equador durante a campanha do título continental de 1941.

Herminio Masantonio: com médias de gols impressionantes e uma habilidade inquestionável, Masantonio foi um dos mais impecáveis atacantes argentinos de todos os tempos. De personalidade forte, não temia nenhum adversário, causava pânico nos zagueiros quando aparecia voando nas jogadas aéreas e marcava gols de todas as maneiras possíveis. Tinha chutes potentes, certeiros e dificilmente errava o alvo. É o terceiro maior artilheiro do futebol argentino no profissionalismo com 256 gols em 358 jogos (só perde para Arsenio Erico e Ángel Labruna) e foi o maior fazedor de gols de toda a história do Huracán. Pela seleção, marcou 21 gols em apenas 19 jogos, média superior a um gol. Curiosamente, nunca venceu a Copa América mesmo tendo anotado 11 gols em oito jogos. Uma pena. Para a Copa América…

René Pontoni: elegante, certeiro, prolífico. Adjetivos não faltam para o grande atacante que brilhou no San Lorenzo naqueles inesquecíveis anos 40. Mesmo sendo um legítimo centroavante, Pontoni não ficava parado na área. Ele buscava o jogo e encontrava alternativas para superar zagueiros e marcações e guardar seus gols. Pela seleção, foi campeão continental em 1945, 1946 e 1947 e marcou 19 gols em 19 jogos.

Alfredo Di Stéfano: La Saeta Rubia teve o prazer de defender a Argentina em apenas seis jogos. Ou seria a Argentina que teve o prazer de ter Di Stéfano por apenas seis jogos? Não importa. O fato é que Don Alfredo deixou sua marca com o manto de sua pátria. É outro que já foi imortalizado aqui no blog. Leia mais clicando aqui.

Antonio Sastre: foi um fenômeno para todos na Argentina. E não tem como se discutir isso. Incrivelmente polivalente, Sastre podia jogar como zagueiro, no meio de campo, como meia, como atacante, como volante, como ponta, enfim, onde quer que o técnico achasse melhor. E em todas ele jogava muita bola. Até goleiro ele foi certa vez! E não levou gols! Ídolo histórico do Independiente e também do São Paulo-BRA, Sastre vestiu a camisa argentina em 35 jogos e marcou seis gols, além de ter vencido a Copa América em 1937 e 1941.

Ángel Labruna: patrimônio do River Plate, maior artilheiro dos clássicos Boca-River, segundo maior artilheiro do profissionalismo argentino. Labruna é isso e muito mais. Venceu duas Copas Américas (1946 e 1955) e colecionou títulos como jogador e técnico. Leia mais sobre essa lenda clicando aqui.

Rinaldo Martino: inteligente, técnico e com um vasto repertório de atuação no ataque, Martino foi um dos grandes presentes da escola rosarina para a Argentina. Driblador nato, entortava zagueiros com facilidade e fez história pelo San Lorenzo. Disputou 20 partidas pela seleção e marcou 15 gols.

Enrique García: para muitos, foi o maior ponta-esquerda do futebol argentino. Bem, qualidades não lhe faltaram: era velocíssimo, tinha técnica acima da média, tinha capacidade de driblar um adversário quantas vezes fosse necessário e deixava os companheiros na cara do gol. Disputou 35 jogos pela Argentina e marcou nove gols. Brilhou no Rosario Central e no Racing.

Félix Loustau: tinha um fôlego notável e só não fazia chover pela ponta-esquerda do super ataque do River nos anos 40. Muito habilidoso, Félix Loustau marcou 101 gols em 365 partidas pelo River entre 1942 e 1957. Conquistou oito títulos nacionais com o clube do Monumental. Pela seleção, disputou 27 jogos e marcou 10 gols.

Guillermo Stábile (Técnico): é o técnico que mais tempo permaneceu no comando da Seleção Argentina e o que mais venceu títulos também. Conquistou sete Copas Américas e um Campeonato Pan-Americano entre 1939 e 1960. Foram 127 jogos, 85 vitórias, 21 empates e 21 derrotas. Embora pudesse ter dado mais chances para determinados jogadores, conseguiu encontrar espaços para dezenas de craques em um período farto e único no futebol argentino. Teve seus méritos. E merece reconhecimento eterno por isso e pelo insuperável tricampeonato que conquistou.


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