sexta-feira, 6 de junho de 2014

A "Briosa" de Santos

Histórico

A Portuguesa Santista nasceu da iniciativa de um grupo de portugueses de origem modesta, trabalhadores de pedreira e da Companhia City – empresa que desempenhou papel fundamental na transformação da realidade urbana santista, como a eletrificação dos serviços dos bondes da cidade, a partir de 1909 e ao fundar um clube de futebol que representasse a colônia portuguesa da cidade de Santos.

Emulando um grupo de jornaleiros de ascendência espanhola, que tinha fundado em 1914 o Hespanha Football Club, que mudou o nome quando da Segunda Guerra Mundial, para Jabaquara Atlético Clube, equipe que revelaria um dos maiores goleiros de todos os tempos, Gilmar dos Santos Neves, o português Lino do Carmo e seus conterrâneos, reunidos numa barbearia da Rua Dr. Manoel Carvalhal, denominação da Rua Joaquim Távora até 1930, no tradicional bairro do Marapé, deliberam pela criação da Associação Atlética Portuguesa.

Assim, a Portuguesa Santista, como viria a ser popularmente conhecida, veio ao mundo no dia 20 de novembro de 1917, como mais um clube de colônias de imigrantes portugueses no Brasil.

Já formada, a equipe santista foi carinhosamente chamada pelos torcedores de “Briosa” – simbolizada pela mascote que faz jus às raízes do clube: “cachopinha”, a menina portuguesa –, apelido que faz alusão às viradas históricas empreendidas pelo time na participação de diversos torneios de futebol amador realizados no litoral do Estado no início de sua história, atribuindo para si, assim, a imagem de time que “não levava desaforos pra casa”.

Depois de uma trajetória vitoriosa nos campeonatos das décadas de 1920 e 1930 e na construção do seu estádio, o Ulrico Mursa, nos anos 20: o primeiro a ter arquibancada de concreto e coberta na América Latina foi no ano de 1950 que a Portuguesa Santista faria sua primeira excursão ao exterior, justamente em terras lusitanas, onde alcançaria uma campanha com cinco vitórias em sete jogos, marcando 17 gols e tomando apenas 7.

Havia disputado partidas contra Sporting de Braga, FC Tirsense, FC Porto, Vitória de Guimarães, Acadêmica de Coimbra, Sporting de Lisboa e EC Marítimo, este na Ilha da Madeira.

Contudo, a viagem internacional que melhor projetou a imagem do clube ocorreu em 1959, quando o time santista desembarcou no continente africano. O êxito da campanha proporcionou ao clube a honra de deter a “Fita Azul do Futebol Brasileiro”, título honorário concedido pela antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD)aos clubes que permanecessem invictos pela maior série de jogos em campanhas no exterior em uma temporada.

O termo “fita azul” havia sido cunhado para o caso das embarcações marítimas que fizessem em menor tempo o percurso de travessia do Atlântico Norte, na virada do século XX. Exemplo ilustre é o recorde do majestoso navio britânico Queen Mary. Por extensão, “fita azul” passou a se referir a algo de grande qualidade.

No Brasil, poucos clubes adquiriram tal condecoração: além da Portuguesa Santista, pode-se mencionar os casos da Portuguesa de Desportos (1951, 1953, 1954), do Coritiba (1972; a expressão “fita azul” está presente inclusive no hino do “Coxa” e do Santa Cruz (1980).

Muitos cortejos acompanharam a partida da Briosa do cais do porto de Santos, no dia 31 de março de 1959. A bordo da embarcação holandesa “Boissevan”, a viagem marítima durou 13 dias, atracando em terras africanas para excursionar por Moçambique e Angola, então colônias portuguesas na África. Os jogos históricos foram realizados entre 16 de abril a 28 de maio daquele ano.

A fim de preservar a história e demonstrar o reconhecimento do feito deve-se citar os indivíduos que levaram a cabo aquela conquista: José de Souza era o chefe da delegação; Filpo Nuñes, o técnico; Juvenal Emílio dos Santos, o enfermeiro; Estevan Franceschini, o massagista; além do jornalista Mário Nobre.

Os jogadores que realizaram uma das campanhas mais fantásticas de um clube brasileiro no exterior, com 15 vitórias em 15 partidas,, fazendo 75 gols e tomando apenas 10, foram: Adelson, Atílio, Bota, Carlito, Chamorro, Gerolino, Gonçalo, Grilo, Guilherme, Jorge, Nenê, Nicola, Nivaldo, Perinho, Pichu, Raul Simões e Valdo. O artilheiro foi Grilo, com 20 gols, seguido por Guilherme, com 18.

Atracando o navio holandês “Ruys”, em 11 de junho de 1959, retornava às terras da Baixada Santista o time campeão foi recepcionado calorosamente por uma multidão na cidade. Os jogadores desfilaram em carro de bombeiro pelas ruas e avenidas de Santos, sendo aclamados como heróis, até chegarem no estádio Ulrico Mursa, onde deram a volta olímpica no gramado.

Os dados históricos da “campanha da fita azul” são os seguintes: 5 X 0 Combinado de Moçambique (16/04); 8 X 0 Ferroviária de Lourenço Marques (18/04); 5 X 1 Seleção de Transwaal (19/4); 5 X 0 Desportos de Lourenço Marques (26/04); 4 X 2 Seleção de Lourenço Marques (30/04); 5 X 1 Seleção União Sul-Africana (03/05); 3 X 0 Ferroviário da Beira (09/05);  2 X 0 Seleção da Beira (10/05); 7 X 1 Ferroviário de Angola (16/05; 3 X 0 Combinado de Sá da Bandeira (17/05); 6 X 1 Seleção de Luanda (19/05); 4 X 1 Combinado Benguelã (21/05); 3 X 0 Grupo Desportivo Ambaco (23/05); 6 X 2 Seleção de Huambo  (24/05) e 9 X 1 Combinado de Lourenço Marques (28/05).

No entanto, a partida que entraria para a história da excursão foi justamente aquela que não ocorreu. A África do Sul estava no itinerário da viagem da equipe brasileira; no entanto, a delegação da Portuguesa Santista teve que enfrentar um adversário extracampo, o regime de segregação racial que vigorava no país.

Desde o complicado desembarque dos três atletas negros da “Briosa” na Cidade do Cabo até a preparação para o jogo, a passagem do time brasileiro acabou por constituir um incidente diplomático entre Brasil e África do Sul.

No dia do jogo, quando a equipe santista, uniformizada, estava pronta nos vestiários para entrar em campo contra um combinado da Cidade do Cabo, um dirigente do futebol local apareceu, informando que os jogadores negros não poderiam participar da partida porque assim determinavam as leis do país.

O então Encarregado de Negócios da Legação Brasileira na Cidade do Cabo, segundo-secretário Joaquim de Almeida Serra estava no estádio e, prontamente, manifestou-se contra a recomendação, apoiado por todo o elenco. “Ou jogam todos ou ninguém joga!”, dizia ele. E ninguém jogou.

Pela recusa em disputar a partida, o episódio obteve repercussão internacional e ajudou em alguma medida a combater o “apartheid “no esporte.

Joaquim de Almeida Serra, neto do destacado abolicionista homônimo Joaquim Serra, recebeu um telegrama do Itamaraty, informando que Presidente Juscelino Kubitschek elogiava sua atitude. O evento também acabou se transformando em um marco histórico por ter sido a primeira vez em que o Brasil se posicionava publicamente contra aquele regime. (Fonte: site “Chá com Bolachas”)

Estádio Ulrico Mursa, da A.A. Portuguesa Santista. (Foto: Arquivo do clube)

2013. Time de profissionais. (Foto: Arquivo do clube)

2013. Categoria de base. (Foto: Arquivo do clube)

2011. Jogos Perdidos. (Foto: Orlando Lacanna)

1984. (Foto: Arquivo do clube)

1977. (Foto: Que fim levou? de Milton Neves)

 1976. (Foto: Arquivo do clube)

1971. (Foto: Várzea Santista)

1970. (Foto: Que fim levou? de Milton Neves)

1968. (Foto: Várzea Santista)

1965. (Foto: Várzea Santista)

1965. Neiva, que jogou na A.A. Portuguesa Santista. (Foto: Várzea Santista)

1965. Excursão santista à Europa (Foto: Arquivo do clube)

1965. Conselheiros do clube. (Foto:Arquivo do clube)

1965. (Foto: Arquivo do clube)

Anos 1960. (Foto: Que fim levou? de Milton Neves)


1958. (Foto: Arquivo do clube)

1940. (Foto: Que fim levou? de Milton Neves)

3 comentários:

Rotiv Leunam disse...

É possível dar-me informações sobre o meu pai Eliseu Augusto Diogo que esteve muito ligado à Portuguesa Santista nos anos 30 e 40. Obrigado

Rotiv Leunam disse...

Alguém pode dar-me informações

Rotiv Leunam disse...

Eliseu Augusto Diogo esteve ligado à moda e ao futebol. Viveu em Santos desde 1927 a 1945. Será que alguém pode dar-me informações desse tempo.