quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A história das Copas do Mundo


URUGUAI - 1930


Desde os primórdios, quando nem era considerado um esporte sério, o futebol já encantava multidões. Mas o caminho para a realização da primeira Copa do Mundo era cheio de problemas.

No dia 21 de maio de 1904 nasceu a Federação Internacional de Futebol Association ( FIFA). Representantes da França, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Suécia e Suíça, elegeram o jornalista francês Robert Guérin como seu primeiro presidente.

No dia 1º de março de 1921, o advogado francês Jules Rimet, de 47 anos, foi eleito presidente da FIFA, posição que ele já ocupava interinamente desde 1918.

Embora a FIFA contasse com apenas 20 países filiados, naquele inicio dos anos 20, um dos projetos mais ambiciosos de Jules Rimet era a realização de um torneio mundial de futebol, independente dos Jogos Olímpicos.

A idéia não era nova, mas o persistente Jules Rimet seria o primeiro a tentar, seriamente, e tirar do papel e levá-la a prática. Depois dos Jogos Olímpicos de 1920, em Antuérpia, a Inglaterra totalmente profissionalizada, se desinteressou pelo torneio olímpico. Isso deu chance a que outros países se destacassem nos gramados.

Em Paris no ano de 1924, os europeus descobriram que também se jogava, e bem, no Novo Continente. O Uruguai e os Estados Unidos representaram as Américas e os uruguaios, com um futebol de extrema habilidade, se sagraram campeões olímpicos. Em 1928 os uruguaios repetiram a dose e se sagraram bicampeões.

No congresso da FIFA em Amsterdã, no dia 26 de maio de 1928, ficou decidido que a Copa seria realizada de quatro em quatro anos. Três anos antes dessa decisão, em 1925, num encontro em Genebra (Suíça), o embaixador do Uruguai para os Países Baixos, Enrique Buero, já manifestara a Jules Rimet o interesse do seu pais em sediar a primeira Copa do Mundo. Até pela falta de concorrente, o Uruguai saiu na frente.

Mas, apesar do interesse manifestado, nada de prático estava sendo feito em Montevidéu naqueles anos. Somente em fevereiro, três meses antes da data marcada para a escolha do país-sede, dois dirigentes do Nacional, José Usera e Roberto Espil, apresentaram a Federação Uruguaia um plano concreto, que incluía a construção de um estádio. Poucos levaram a sério. Muitos duvidavam da viabilidade do projeto.

Cinco países europeus também haviam se apresentado para sediar o mundial no ano seguinte: Itália, Hungria, Holanda, Espanha e Suécia. Os quatro últimos desistiram para apoiar a Itália, que tinha como seu grande incentivador, o ditador Mussolini.

Mas que encantou mesmo foi à proposta financeira dos uruguaios. Além de construir um estádio, eles dispunham pagar todas as despesas de viagem e alimentação dos participantes. E por aclamação, os sul-americanos ganharam a concorrência. A Itália resolveu não participar, o que provocou um efeito dominó.

A FIFA contava com 46 filiados e enviou convites de participação para todos, imaginando, com certo otimismo, que metade responderia “sim”. O Brasil, filiado desde 1923, aceitou, assim como a maioria dos sul-americanos.

Mas, no dia 30 de abril de 1930, data do encerramento das inscrições, nenhum dos 17 representantes da Europa havia aderido. A maioria alegava a crise econômica e a grande distância até o Uruguai. Os uruguaios sabiam que a ausência dessas seleções, consideradas, juntamente com a Inglaterra, as maiores forças do Velho Continente, empobreceria tecnicamente a Copa. Injuriado, o Uruguai ameaçou não só cancelar o mundial como também abandonar a FIFA.

Jules Rimet sentiu que seu sonho de uma festa universal de futebol estava indo por água abaixo e que era preciso reverter à situação. Presidente licenciado da Federação Francesa, ele praticamente, obrigou seu pais a participar. Campeã Olímpica em 1920, a Bélgica foi o segundo país a confirmar sua ida a Montevidéu, graças ao empenho de Jules Rimet.

Sem pressões nem pedidos especiais, a Iugoslávia decidiu aceitar o convite da FIFA. Apesar do desprezo de muitos países europeus, o Uruguai construiu até um belo estádio e organizou com muito esmero todos os detalhes da grande festa do futebol. (Fonte: Museu dos Esportes)

O único sobrevivente da Copa de 1930

Varallo, quando jogava pelo Boca Juniors. E abaixo, em foto recente.

O ex-atacante argentino Francisco Varallo, último jogador vivo a ter disputado a Copa do Mundo de 1930, completou 100 anos no dia 5 deste mês. “Pancho” Varallo era o jogador mais jovem da seleção de seu país, que caiu para o Uruguai na final do primeiro Mundial.

O veterano nasceu em 5 de fevereiro de 1910 na cidade de La Plata, a 50 km de Buenos Aires. Ídolo do Boca Juniors, foi o recordista de gols pelo clube, com 194 tentos, até que o centroavente Martin Palermo o ultrapassou em 2009.

Varallo começou sua carreira no 12 de Octubre, pequeno time de La Plata, e em 1928 foi contratado pelo Gimnasia y Esgrima. Após a Copa do Mundo, o jogador estreou pelo Boca Juniors, equipe em que ficou até sua aposentadoria, em 1939. Na equipe de Buenos Aires venceu três títulos argentinos, além de conseguir a artilharia de cinco campeonatos. Venceu uma Copa América com a seleção argentina, além do vice do Mundial de 1930.

“Lembro-me nitidamente daquela final. Marcou-me para sempre. Foi um jogo duríssimo, que os uruguaios venceram com prepotência. Nós tínhamos um grande time, mas alguns jogadores relaxaram no segundo tempo e perdemos”, lembra Varallo.

“Todos me perguntam sobre esse jogo. Dizem que eu não deveria jogar por ser muito jovem e inexperiente. De vez em quando prefiro não lembrar do que aconteceu em Montevidéu. Ganhávamos facilmente por 2 X 1 e perdemos por 4 X 2. Eu não conseguia correr por causa de uma lesão no joelho. Me irrita lembrar daquilo”, recorda o jogador.

Entre as várias homenagens organizadas para Varallo, destacam-se a criação do prêmio à “Trajetória e Cavalheirismo”, que leva seu nome. O primeiro foi entregue ao ex-jogador no último dia 12, em La Plata. Ele também dará nome a uma rua da cidade.


Seleção do Uruguai, campeã mundial de 1930. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
O francês Jules Rimet, à esquerda, presidente da Fifa entrega o troféu da primeira Copa do Mundo a Raul Jude, presidente da Federação Uruguaia de Futebol. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Uruguai comemora primeiro título mundial. (Fonte: Site "Storie di Calcio)

SEQUÊNCIA DOS GOLS DA GRANDE FINAL

Dorado, Uruguai 1 X 0. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Stabile, 1 X 1. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Peucelle, Argentina 2 X 1. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Cea, 2 X 2.(Fonte: Site "Storie di Calcio)
Iriarte, Uruguai 3 X 2. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Castro, que não tinha um braço, marcou o quarto gol. Placar final: Uruguai 4 X 2 Argentina. Fonte: Livro "Todas as Copas do Mundo", de Orlando Duarte)

Ficha do Jogo final

Data: 30 de Julho de 1930.
Uruguai 4 x 2 Argentina
Gols: Dorado (U). Peucelle (A) e Stabile (A) no primeiro tempo. Cea(U). Iriarte (U) e Castro (U) no segundo tempo.
Juiz: Jean Langenus (Bélgica).
Estádio: Centenário.
Publico estimado: 70 mil torcedores.
Horário: 14 horas.
Uruguai (Campeão); Ballesteros - Nasazzi e Mascheroni - Andrade - Fernandez e Gestido - Dorado
- Scarone - Castro - Cea e Iriarte.
Argentina (Vice): Botasso - Della Torre e Patenoster - Juan Evaristo - Monti e Suarez - Peucelle - Varello - Stabile - Ferreira e Mario Evaristo.


Os capitães Nazassi e Ferreira, de Uruguai e Argentina, na final. Observem o uniforme do juiz. (Fonte: Livro "Todas as Copas do Mundo", de Orlando Duarte)
Uruguai e Argentina entram em campo para o jogo final. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Preguinho marcou o primeiro gol brasileiro em Mundiais, mas o Brasil caiu na primeira fase. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Seleção do Brasil, que enfrentou a Bolivia.
Time brasileiro no Uruguai.
Tirnanic, destaque do time da Iugoslávia. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Pedro Cea, do Uruguai foi destaque do time e vice-artilheiro da Copa com 5 gols. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Guillermo Stabile, conhecido como "El Filtrador", atacante da Argentina foi o primeiro artilheiro da história das Copas. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Lucien Laurent, da França foi o autor do primeiro gol da história das Copas do Mundo. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Lance do jogo Argentina 2 X 1 França. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Lance do jogo Uruguai X Peru. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Seleção Brasileira que enfrentou a Iugoslávia. (Fonte: Site "Storie di Calcio)

O Brasil levou 24 jogadores.

Osvaldo VELLOSO de Barros (Fluminense); JOEL de Oliveira Monteiro (América); FERNANDO Giudicelli (Fluminense); Alfredo BRILHANTE da Costa (Vasco);ITALIA Luiz Gervasoni (Vasco);ZÈ LUIZ José Luiz de Oliveira (São Cristóvão); OSCARINO Costa da Silva (Ypiranga);IVAN MARIZ (Fluminense); Agostinho FORTES Filho (Fluminense); PAMPLONA Estanislau de Figueiredo (Botafogo); FAUSTO DOS SANTOS Nascimento (Vasco); BENEVENUTO Humberto de Araújo (Flamengo); HERMOGENES Fonseca (América); PREGUINHO João Coelho Neto (Fluminense); NILO Murtinho Braga (Botafogo); BENEDICTO Dantas Moraes Menezes (Botafogo); Carlos Alberto Dobbert de CARVALHO LEITE (Botafogo); RUSSINHO Moacyr de Siqueira Queiroz (Vasco); THEÒFILO Bettancourt Pereira (São CRISTÓVÃO); DOCA Alfredo de Almeida Rego (São Cristóvão); MODERATO Wisintainer (Flamengo); POLY Polycarpo Ribeiro de Oliveira (Americano); MANOELZINHO Manoel de Aguiar (Goitacaz); ARAKEM Abraham Patusca da Silveira (sem time).

COMISSÃO TÉCNICA: Chefe da delegação, Afrânio Antonio da Costa; Secretario,- Horace Wener; Representante junto a FIFA , Sylvio Netto Machado; Cronista, Otavio Antonio da Silva e Sylvio Vasques; Massagista, Ovídio Dionysio do Flamengo; Médicos, Fábio de Oliveira e João Paulo Vinel de Moraes; Arbitro, Gilberto de Almeida Rego; Comissão Técnica, Pindaro de Carvalho Rodrigues e Egas de Mendonça.

Uniforme da Seleção Braseileira na Copa de 1930. (Fonte: Site da CBF)

Seleção da Romênia. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Dia da abertura da copa. Desportistas com chapéus e máquinas fotográficas com tripé. *Fonte: Livro "Todas as Copas do Mundo", de Orlando Duarte)

A bola da Copa


A bola utilizada na Copa era chamada de “tiento”, nome pela qual também ficaram conhecidas no Brasil de “tento”. Eram de couro, de cor marrom escuro, com gomos retangulares costurados a mão e um bico para encher a câmara interna, de borracha.

O bico era depois dobrado e colocado para dentro da bola, ficando entre o couro e a câmara. Sé então a abertura era amarrada, como se faz com um cadarço de sapato, com uma estreita tira de couro criando um calombo que não apenas influía na trajetória da pelota como também podiam causar ferimentos.

Por isso, alguns jogadores usavam, gorros reforçados internamente com folhas de jornal. (Arquivos do museu dos esportes)

Estádios da Copa

Estádio Centenário, o principal palco da Copa.(Fonte: Site "Storie di Calcio)
Vista interna do Estádio Centenário. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Uma placa é a última recordação do velho "Estádio Pocitos"
Esquina do antigo "Estádio Pocitos", em Montevidéu, que não existe mais. (Fonte: Wikipedia)

Este estádio foi utilizado principalmente para partidas de futebol do clube proprietário, o Peñarol de 1921 à 1933. Depois foi demolido na década de 30 porque o Peñarol começou a jogar no Estádio Centenário como sua casa de campo, e além que, devido ao aumento da parte urbana da cidade que, literalmente, comeu o campo. O "Pocitos" também foi utilizado na Copa de 1930.

Vista interna do Estádio "Gran Parque Central. (Fonte: Wikipedia, a enciclopédia livre))
Fachada do Estádio "Gran Parque Central", do Clube Nacional de Futbol (foto recente), que foi um dos palcos da Copa. (Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre)
Jogadores da seleção francesa se divertem no navio, a caminho do Uruguai para a disputa do primeiro Mundial. (Fonte: Site "Storie di Calcio)
Embarque da Seleção da França. (Fonte: Site "Storie di Calcio))
Jules Rimet embarca para Montevidéo, no "Conte Verde". (Fonte: Site "Storie di Calcio)

Durante toda a viajem da França ao Uruguai, Jules Rimet não se separou de sua valise nem para ir ao banheiro. Dentro dela estava a preciosa taça de ouro, a Copa do Mundo.

Logo após desembarcar em Montevidéu, ele exibiu pela primeira vez a "Victoire aux ailes d’or" (Vitória com asas de ouro). Com 30 centímetros de altura e pesando 4 quilos (1,8 quilos de ouro maciço), o troféu foi montado sobre um pedestal de lápis azuli. A taça custou 50.000 francos – o equivalente a 14.500 dólares, uma fortuna na época – dinheiro suficiente para comprar uma frota de automóveis Mercedes-Benz.

Foi criada pelo escultor francês Abel Lafleur, funcionário do Museu de Belas Artes de Rodez. Por sorte, Rimet encomendou o trabalho com um ano de antecedência. Lafleur, pouco acostumado a trabalhar com ouro, consumiu mais de sete meses na confecção da peça.

O navio "Conte Verde" tinha um salão de música de majestade e luxo espetaculares. (Fonte: Livro "Todas as Copas do Mundo", de Orlando Duarte)
O navio "Conte Verde", que levou as delegações européias ao Mundial, em rara imagem de 1932 já com as cores da "Italia Flotte Riunite", antes de passar para o "Lloyd Triestino". (Fonte: Livro "Todas as Copas do Mundo", de Orlando Duarte)No dia 20 de junho de 1930, uma sexta feira, o navio italiano “Conte Verde” zarpou de Gênova com a delegação da Romênia a bordo. No dia seguinte, fez escala em Villefranche-sur-Mer, na França, onde embarcaram os franceses e os dirigentes da FIFA, entre eles Jules Rimet.

A parada seguinte foi em Barcelona, onde entraram os belgas, que tinham ido de trem até a Espanha. Depois, houve paradas técnicas em Lisboa, na Ilha da Madeira e nas Ilhas Canárias, antes de chegar ao Rio de Janeiro, onde os brasileiros subiram a bordo.

Após dois dias de descanso na cidade, que incluíram uma visita das seleções estrangeiras às Laranjeiras, estádio do Fluminense e uma inesquecível noite nos cabarés cariocas, o Conde Verde zarpou no final da tarde de 2 de julho.

Arakem Patusca, o paulista solitário subiu a bordo em Santos. Depois da Copa, ele declarou ao jornal "Gazeta Esportiva" de São Paulo que a Seleção chegou ao Uruguai dividida em panelinhas.

Segundo ele, os atletas do Fluminense e Botafogo – clubes aristocráticas – na comparação de Vasco, Flamengo e outras – tiveram acomodações mais confortáveis , tanto no navio Conte Verde com no Grande Hotel da Cave Colón, em Montevidéu., gerando um clima ruim entre os jogadores.

Por problemas particulares, o técnico Pindaro de Carvalho e os jogadores Joel e Teófhilo só se juntaram ao grupo uma semana depois. Viajaram para Montevidéu no Almanzora, um transatlântico britânico com capacidade para 1.390 passageiros que fazia a rota de Southampton até o Rio da Prata.

O Congresso da FIFA, em 1930. (Fonte: Livro "Todas as Copas do Mundo", de Orlando Duarte)

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